(Pastor Fabiano Muchiutti, Pâmela e filhos)
Trajetórias de vida guiadas por Deus são incríveis, surpreendentes.
Conheça a história de uma família que viveu os processos de luto e dor, descobrindo através do sofrimento a brevidade da vida e o que realmente tem valor.
A história de Fabiano e Pâmela Muchiutti, dois irmãos preciosos entre nós.
Fabiano e Pâmela deixaram suas carreiras profissionais e ministeriais em São Paulo para apoiarem voluntariamente, de forma presencial, o trabalho missionário de Asas de Socorro.
Fabiano Muchiutti é um fazedor de tendas.
Administrador, empresário, piloto e pastor, decidiu deixar o trabalho, o pastoreio da igreja, as realidades conhecidas e ‘confortáveis’ para viver e realizar o que é mais urgente- usar o melhor de seus dons e talentos para servir a Deus, cumprindo seu chamado ministerial, fazendo o que ele pode fazer, mas muitos outros não têm a mesma condição de realizar.
Para seu sustento e de sua família, Fabiano mantém uma empresa de churrasco, atendendo a seus clientes em finais de semana, no estado de São Paulo. Durante os dias da semana, porém, ele trabalha na oficina aeronáutica de Asas de Socorro, em Anápolis, Goiás, voluntariamente.
Uma rotina intensa, uma fé que impulsiona, um testemunho impactante, pois, para Fabiano, bem diferente do consenso geral, “a vida missionária não é uma vida ruim. Na verdade, a vida missionária é uma vida feliz, onde se vê o cuidado maravilhoso e surpreendente de Deus em cada detalhe”.
O outro lado da história
Pâmela Muchiutti, esposa de Fabiano, mãe de três filhos, também deixou a carreira profissional para apoiar seu esposo, filhos e ministério missionário. Como ela mesma diz, durante a caminhada, com as lutas e desafios, enfrentamento de doenças sérias e dificuldades diárias, aprendeu “a colocar as coisas que realmente têm valor no lugar certo”.
Surpreendente. Vidas que nos inspiram na caminhada de fé em um Deus que faz milagre em nós, através de nós e por nós.
“Foi aí que veio a grande questão. Se a vida é tão curta, eu preciso fazer aquilo que é mais urgente.”
A vida de Fabiano Muchiutti, testemunho e lições para cada um de nós.
“Minha avó, mãe da minha mãe, era evangélica, apenas ela. De vez em quando, ela me levava à igreja, mas minha avó faleceu quando eu tinha 14 anos. Ela tinha 54 anos ao falecer; era uma mulher muito crente, muito piedosa e, com a morte dela, minha família inteira acabou indo para a igreja. Na época, o pastor nos acolheu muito bem, trabalhou muito sobre o consolo de Deus em nossas vidas; e aí começamos a frequentar a igreja, todo os domingos. Porém, eu frequentava a igreja apenas para frequentar, sem muito compromisso com Deus.
Quando eu tinha 17 anos, no dia da minha profissão de fé, o Senhor de fato me chamou e minha vida foi transformada. Foi em 1999. O Senhor me chamou, alcançou e transformou minha vida. Comecei então a me envolver muito na igreja, nos grupos de adolescentes, de jovens; dando aulas nas escolas dominicais. Fui presbítero e ajudava na liderança. Aos 18 anos, tirei minha carteira de piloto. Comecei a voar aos 17. Gostava muito de aviação, mas uma coisa que eu sentia muita dificuldade na aviação era que eu via muita promiscuidade na vida das pessoas. Via muitas coisas que eram contra o evangelho e isso me deixava muito triste.
Até que um dia fui em um show aéreo com minha namorada, que hoje é minha esposa, a Pâmela, e vi um avião de Asas de Socorro. Ao pegar o folheto, vi que Asas era uma organização missionária. Falei então - ‘é isso que eu quero. Trabalhar na aviação junto com a igreja, com os irmãos e a palavra de Deus’. Tinha 21 anos nesta época.
Mas um dos requisitos para participar de Asas de Socorro era ter seminário. Aí, desisti. Estava na faculdade, fazendo administração e não queria ir para o seminário. Segui então na vida; continuando sempre envolvido com as atividades da igreja.
Um dia, fui em uma viagem missionária de Asas, em um projeto em uma comunidade ribeirinha. Voltei da experiência apaixonado e querendo me envolver mais com a missão. Comecei então a participar da Assembléia representativa de Asas de Socorro, passei a participar do conselho administrativo da missão. Morava em São Paulo e ia sempre para Anápolis para participar das reuniões administrativas de Asas. Em 2014, fui para o seminário. Em 2017, formei- me no seminário e passei a pastorear uma igreja. Na minha mente, eu pensava - “um dia, vou para a missão’.
Um dia….
Como sou formado em administração de empresas, tenho pós em gestão empresarial e sou piloto, comecei a perceber que os dons que Deus me deu são úteis em Asas. Pensava assim - ‘um dia, vou trabalhar em Asas de Socorro. Um dia…’ Em 2018, após me formar no seminário, fui pastorear em Indaiatuba, na região de Campinas, São Paulo.
A cada dois meses, vinha para Goiás para participar das reuniões em Asas, e estava tudo bem. Muito bem. A cidade de Indaiatuba é uma ótima cidade, a igreja era muito acolhedora e um lugar muito bom de pastorear. Pessoas interessadas. Estava bem e feliz. Tinha renovado meu compromisso com a igreja por mais cinco anos de pastoreio.
Porém veio a pandemia
E, na pandemia, infelizmente, acabei perdendo meu pai. Meu pai foi chamado para morar no céu com o Senhor, aos 63 anos de idade.
Meu pai era uma pessoa muito saudável. Não me lembro de vê-lo doente. Nunca o vi doente. Na pandemia, foi a primeira vez. Passei o Natal de 2020 com meu pai e minha mãe na UTI. Mamãe melhorou, no finalzinho do ano. E meu pai, no dia 5 de janeiro, foi morar no céu.
Isso me marcou muito. A minha relação com minha família, com meu pai, com meus irmãos, sempre foi muito próxima e este luto, esta experiência do luto de alguém tão próximo, tão querido, foi muito forte. E, ali, eu senti, pela primeira vez, a brevidade da vida. Eu pregava sobre isso, eu ensinava sobre isso, porque as escrituras ensinam sobre a brevidade da vida, mas eu nunca tinha sentido na pele a brevidade da vida; e eu percebi que meu pai só tinha 24 anos a mais do que eu. Eu tinha, na época, 39, ele tinha 63. Só 24 anos a mais que eu.
Foi aí que veio a grande questão. Se a vida é tão curta, eu preciso fazer aquilo que é mais urgente.
Minha esposa sempre me incentivou. Ela sabe que sou apaixonado pela aviação e me disse- "Fabiano, o que você faz hoje, na igreja, outros podem fazer. Mas o que você pode fazer em Asas, nem todos podem fazer. Nem todos têm seminário, faculdade, são pilotos, falam inglês." A gente começou então a perceber realmente que era hora de ir para Missão. Fiz uma transição longa de dois anos com o pastor que ficaria no meu lugar, comuniquei ao conselho da igreja que estaria indo para missão e fui pastor em Indaiatuba até o dia 31 de dezembro de 2022. Começamos nossa mudança e chegamos em Anápolis para servir em Asas no dia 19 de janeiro de 2023.
Estamos servindo como voluntários. Sou voluntário de tempo integral. Meu sustento não vem de igrejas, ou de pessoas. Ele vem do meu trabalho; tenho uma empresa de churrascos, faço churrasco gaúcho. Atendo a domicílio. Saio de Anápolis na sexta, e passo o final de semana fazendo o churrasco, o buffet em São Paulo. Retorno no domingo para Goiás e segunda feira estou na missão, novamente. Sou então voluntário, e não missionário, porque exerço uma atividade extra além da missão. Mas, de segunda a sexta, eu estou na missão. Só nos finais de semana que normalmente vou para São Paulo para trabalhar com o buffet, porque ainda não encontrei clientes na região de Goiás, onde está Asas.
Uma vez, um pastor nos disse - “Fica tranquilo. Vai para o ministério. Não vai faltar nada. Não fará falta".
E realmente nunca faltou.
Não ficamos mais pobres. Não deixamos de fazer as coisas que fazíamos. A gente percebe que Deus vai suprindo, suprindo, suprindo.
O que falo para as pessoas que têm medo de ir para missões é que, apesar de se vender muito a idéia de que o campo missionário é um lugar de grande sofrimento, esta não é a verdade.
Quem vive missões vê a mão de Deus, o sustento de Deus. Existem dificuldades, mas há dificuldades em qualquer lugar.
Falo sempre para as pessoas- ‘não tenha medo, não tenha medo. Deus sempre dá muito mais do que a gente pede, merece ou precisa’. A gente tem visto isto. Deus nos pequenos detalhes. Ele provendo, Ele sustentando. Então, estamos aqui. Com três filhos, como vários missionários de Asas, e Deus tem sustentado. Deus tem provido.
Minha mensagem para as pessoas que têm medo é - ‘não tenham medo de se entregar para o serviço missionário’.
Realmente, servir a Deus como missionário é se entregar inteiro. Não tenha medo. Você não vai viver uma vida pior, nem mais triste. Nada disso. Você vai viver uma vida abençoada. Uma vida muito boa diante de Deus, e não boa no sentido que o mundo entende, mas no sentido que Deus entende. E Deus nos dá contentamento, faz-nos alegrar com o que temos e somos, porque vem Dele.
Considero-me um fazedor de tendas, como Paulo.
Sempre fui empreendedor. Já montei vários pequenos negócios. Minha família também tem um negócio próprio, uma retifica de motor a diesel. Minha família trabalha com este setor de manutenção há 40 anos. Era do meu pai e hoje também sou sócio da retífica. Meus irmãos seguem no trabalho da oficina e eu estou em missões. Eles sempre me chamam para voltar, mas sei que este é um tempo que devo estar em Asas. Tem dias que são cansativos, ir para São Paulo nos finais de semana e estar na missão durante a semana.
Até quando farei isto? Até quando Deus me der saúde. Mas vejo Deus me dando força. Deus fortalece de uma forma impressionante. Entendo que tudo o que tenho e sou está à disposição do Reino.’”
——
“Não sou o que faço, sou o que Deus fez de mim”- O outro lado da história
O relato de Pâmela Muchiutti, uma mulher de fé e sabedoria.
‘Eu era católica. Quando estava entrando na adolescência, meu pai estava procurando uma nova religião. Estava visitando seitas e igrejas. Um dia, meu pai bateu o carro e a culpa era dele. O motorista saiu do carro batido, e foi um amor de pessoa. Foi muito bacana e compreensivo. Isto marcou a vida de meu pai. O tempo passou e, um domingo, meu pai foi visitar uma igreja, e quem estava lá? O senhor dono do carro que meu pai tinha batido. Meu pai então ficou nesta igreja e a família toda foi para igreja presbiteriana a partir daí.
Conheci meu esposo com dezessete anos. Casei-me e as crianças foram chegando. Até que um dia o Fabiano decidiu ir para o seminário.
Abri mão do meu trabalho assalariado, em uma grande empresa de cosmético, para ficar com as crianças e apoiá-lo. Optei por abrir mão da carreira para ficar com as crianças porque chega uma hora em que a gente precisa dedicar tempo para os filhos.
Às vezes, passa pela cabeça- ‘deveria voltar a trabalhar fora’. Toda mulher trabalha muito. Continuo trabalhando, trabalho até mais hoje. No passado, tinha mais ajuda que tenho hoje. Mas sei que nada substitui o cuidado próximo das crianças que posso ter, estando em casa com elas. Muitos problemas de meus filhos só consegui resolver porque estava ali, perto deles.
Trabalhei na área de pesquisa por muito tempo, como química. Mas quando olho o trabalho que tenho hoje, com meus filhos, tenho certeza que ele é muito mais importante.
Meus filhos têm 14, 9 e 6 anos de idade. Foi um processo longo que vivi até conseguir largar a carreira profissional. Não foi nada momentâneo ou rápido. Deus foi trabalhando no meu coração aos pouquinhos. Começou uns dez anos antes do dia em que eu realmente decidi sair do trabalho assalariado.
Acho que, quando aconteceram comigo dois problemas sérios de saúde, Deus foi me mostrando o que realmente tinha valor. Eu tenho endometriose, tive de fazer tratamentos para engravidar. Durante este processo, Deus foi trabalhando em minha vida, colocando as coisas que realmente têm valor no lugar certo. Tive também um câncer de tireoide, quando minha filha era pequena.
Acho que, quando você enfrenta doenças graves, passa a colocar valor no que realmente importa. Estas coisas foram acontecendo comigo e o meu coração foi mudando…
Com um filho, dava para continuar a trabalhar, conciliar… Com o segundo, foi ficando mais difícil … Com o terceiro, percebi que queria viver direito a maternidade. Tive o apoio do Fabiano em minhas decisões.
Meu câncer, descobri em uma consulta de rotina. Conversei com a médica, percebi que tinha alguma coisa física na região da tireoide. Fiz biópsia, e deu que era câncer.
Foi um processo de Deus, trabalhando no nosso coração. O objetivo da tribulação é mudar a vida. Tirei a tireóide; fiz tratamentos para engravidar. Nunca engravidei naturalmente.
Quando tudo passou, quando você vê tudo que Deus fez, você consegue entender que aquilo não foi um problema. Não estaria onde estou se não tivesse passado por tudo isso.
Não teria aprendido o valor das coisas se não tivesse passado por tudo que passei. Você passa a entender que Deus conduz tudo perfeitamente. E, quando você está passando pela dificuldade, você tem aquela paz que excede todo entendimento. Nestes momentos de dor, senti-me protegida. Tenho certeza que foi Deus conduzindo todo o processo pelo qual passei. Deus dá a dificuldade e dá a força todos os dias, pela manhã.
Cremos que Deus vai providenciar o que precisamos, porque Ele é quem dá tudo. Estamos a um ano e meio em Anápolis, tem sido muito bom. Gostei muito de Anápolis, gostei do colégio que meus filhos estão. Meus filhos estão bem.
Quando eu estava com uma possibilidade de morte, o meu desejo maior não era trabalhar, ser uma cientista melhor, ou ter uma carreira brilhante, o que eu queria era ver meus filhos crescerem, ver os 15 anos de minha filha mais velha, fazer 25 anos de casada, ver os meus netos…
Deus foi me levando nos processos, Deus foi trabalhando no meu coração, Deus foi me mostrando o que de fato é importante
Percebi que não sou o que faço, mas sou o que Deus fez de mim”.
Testemunhos de vida, vidas transformadas.
Caminhadas do Reino de Deus que abençoam e fazem com que a vida seja feliz e repleta de sentido.
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